Juro que não percebo.
A Universidade de Évora demonstra todo o interesse por Pisões que nunca a Câmara de Beja demonstrou até hoje.
Não será demasiado humilhante para Beja, ter que recorrer a Évora para que seja esta última a administrar uma peça singular do nosso património?
Não faz qualquer sentido, uma Autarquia investir milhares de euros em torno de um evento de grande potencial que pode (e deve!) contribuir para afirmar Beja como Pólo Arqueológico Romano a nível nacional – o Festival Beja Romana, assumir a demolição de um depósito de água com a finalidade facilitar a visita a um novo achado de grande valor arqueológico para além de simplificar a implantação do futuro Centro de Artes e Arqueologia, e por outro lado, fazer completamente o contrário, negligenciando Pisões, que é um importante campo arqueológico Romano, relegando-o, acabando por o oferecer a Évora.
Se cada vez que Beja perde um serviço para Évora, fico fulo (e nas últimas décadas, foram muitos!), Évora ser convidada por Beja a administrar o seu património, deixa-me doente. Como Bejense, sinto-me HUMILHADO!
Não quero acreditar que Beja esteja a passar por um momento em que a escassez de massa crítica condicione a capacidade de gerar ideias inovadoras e impulsionadoras da própria cidade, concelho e até mesmo do distrito.
Por norma, sempre que possível abordo todos os problemas como oportunidades. É esta a minha forma de ser.
Neste caso concreto, vejo grande potencial em conjugar uma série de acções e esforços para elevar Beja como um dos mais importantes Pólos Arqueológicos Romanos em Portugal.
Por exemplo, o Instituto Politécnico, que a cada ano que passa apresenta um decréscimo de interesse em alguns dos cursos que ministra, poderia, através de protocolo com a Universidade Nova de Lisboa, criar um curso ou vários, na áreas da História, Arqueologia e Conservação-Restauro. Com o estabelecimento desta nova área de estudos em Beja, o Instituto Politécnico, para além de massa crítica, passaria a estar capacitado a colaborar directamente com o Município. Ganharia Beja e ganharia o nosso património. Esta, é uma ideia possível, mas a Autarquia teria que estar verdadeiramente empenhada em liderar e tomar a iniciativa, e não passar o tempo a organizar festas que infelizmente mais se assemelham a desfiles carnavalescos.
O Festival Beja Romana, a meu ver tem grande potencial mas está totalmente mal aproveitado. Porque não se centra no seu objetivo, porque permite a mistura de outras culturas e outros estilos de outros períodos da nossa história, mas especialmente porque não há um esforço no detalhe!
A meu ver, os trajes que os figurantes usam não têm que ser forçosamente na sua maioria de origem “chinesa” e de qualidade carnavalesca.

Beja poderia desenvolver esforços para que a nível local se estabelecesse uma empresa ou pequenas empresasespecializadas em produção e confecção de trajes militares, bem como de todos os outros trajes romanos. Felizmente, no nosso concelho e no nosso distrito ainda contamos com grandes mestres que trabalham o cabedal. Em poucos anos, a qualidade deste Festival poderia ser elevada a um nível único em Portugal e mesmo na Europa (a nível mundial, há uma constante procura por réplicas fidedignas de trajes militares romanos, bem como de outros trajes).

Se em Torres Vedras há empresas que trabalham o ano inteiro focadas no Carnaval, Beja tem todo o potencial para se afirmar no calendário nacional com a temática Romana, desde que crie condições para isso.
Mas o Beja Romana poderia ainda ir mais longe. Porque que não a construção de uma réplica em tamanho real do templo que se acredita ter encontrado junto à Praça da República, desmontável e em madeira, tal como os estúdios de cinema fazem nos seus cenários? Não tornaria único este Festival? Não passaria a ser este Festival um chamariz para turistas internacionais?
E porque não celebrar tudo aquilo que os Romanos nos deixaram, das artes à engenharia com jogos pedagógicos para os mais novos? Porque não ter blocos gigantes em esferovite para que as crianças construam arcos/arcadas ou que possam construir um aqueduto com objetivo de levar a água do ponto A ao ponto B? E o mosaico romano? Porque não criar jogos didáticos para que os mais novos com os seus familiares conheçam de mais perto essa arte?
Ideias, tenho muitas e é especialmente por esse motivo que olho para o que vai acontecendo em Beja e cada vez me sinto mais distante. Eu e muitos outros.
Autor(a): Luís Palminha
Humanista, Criativo, apaixonado pela 7ª Arte, Fotografia e Arquitectura, é também entusiasta das IT’s. Durante a Licenciatura em Arquitectura de Gestão Urbanística, encontrou nas Cidades e no Território, um novo ímpeto guiado pelo constante desafio de mudanças de paradigmas.
(De momento encontra-se a concluir a Tese de Mestrado em Urbanismo)
Gostei muito do que li, pela lucidez crítica do que se desenvolve, ou não, na nossa cidade. É necessário “puxar as orelhas” aos responsáveis que o pedem e que, desinteressadamente continuam a olhar para o lado.
No entanto, não devo deixar de dizer que o explanar de ideias, como aqui é feito, deve ser mais cuidadoso e ponderado. Aquela do Templo em Madeira, parece-me um tanto utópica, pois é preciso não acrescentar mais “Carnaval” ao Carnaval que até aqui tem sido a “Beja Romana”, Que há imensas potencialidades para se fazer uma coisa a sério e que nos dignifique, isso há, mas é urgente mudar os produtores.
É a minha opinião, vale o que vale.
ATENTO, quantos templos conhece que possa visitar?
Tem ideia do impacto que iria gerar em Beja se Beja tivesse uma réplica do tempo que julgamos ter encontrado vestígios na Praça da República? Seria um evento com uma peça única!
Não é utópico! É uma ideia de fácil execução. Estamos a falar de uma peça que serviria de “cenário” e em simultâneo como chamariz para um evento completamente diferenciador.
Luís Palminha, “…uma réplica do templo que julgamos ter encontrado vestígios…” JULGAMOS, não se podem fazer réplicas do que se julga, sob pena de cairmos no ridículo. Estude-se, confirme-se, divulgue-se e avance-se. Até lá…
Gostei do que li e acho uma série de bons exemplos de ideias que poderiam ser desenvolvidas.
No entanto o IPB não oferece grande apoio…também me parece um saco de gatos e muito pouco motivados para crescimento de interesse e captação de novos alunos. Pisões não é novo…ao tempo que já deviam ter apostado nessa vertente…por outro lado possuem um aeroporto na região, embora no estado que se encontra também nada acrescentam…o boom da agricultura também não motiva a grandes apostas…