…mais um Projeto ou um Projeto Estruturante?
Video divulgado pelo Município de Beja de apresentação do Projeto.
Antes de começar importa salientar que não sou contra a criação de um Parque Fluvial ou Praia Fluvial. As questões que pretendo levantar, constituem uma forma de ver e olhar o território, baseada no Planeamento e em Estratégia Territorial.
A Albufeira dos Cinco Reis, situa-se a cerca de 6 Km de Beringel, 5 Km de Beja e a 3 Km do Penedo Gordo. Isto é, distância em linha recta.
Em termos de acessibilidades, a mesma fica a 8,4 Km (14 min) ou 9,4 Km (17 min) de Beja, a 5,5 Km (16 min) do Penedo Gordo e a 9 Km de Beringel (16 min).
Bem sabemos que para um Alentejano, qualquer uma destas distâncias se enquadra no “é já ali”, mas para quem faz praia, não é distância que represente conforto, nomeadamente, de quem calça os chinelos, agarra na sombrinha e caminha até ao areal, tal como tantos o fazem em Monte Gordo.
Analisando este Projeto e apesar de concordar que em parte, o mesmo possa representar algum potencial, acredito que esse mesmo potencial seja relativo e de certa forma limitado. Isto porque a Albufeira dos Cinco Reis fica afastada de tudo. Afastada do Penedo Gordo, Beja e de Beringel. Esse distanciamento coloca dificuldades à criação de dinâmicas locais ou o desenvolvimento económico com impacto direto, tanto nas Aldeias mais próximas, como na própria Cidade.
Conhecemos bem a realidade de Beja. É expectável que este projeto se torne num sucesso imediato no ano inaugural, pois é o que acontece com quase tudo o que é novidade em Beja. Quando é novidade, o espaço parece não chegar dada a elevada procura, mas com o passar do tempo este efeito perde-se e só nesse momento poderemos avaliar o verdadeiro impacto deste Projeto.
Contudo, na minha ótica, a melhor localização possível para criar um Parque Fluvial em Beja seria a Albufeira do Pisão, que fica junto a Beringel e nas proximidades de Trigaches.
A Albufeira do Pisão, representa uma enorme superfície de água e possibilitaria a instalação de uma Academia ou Centro de Desportos Náuticos, como o remo, canoagem, stand up paddle, bem como outros, um parque específico para Caravanas ou até mesmo um parque de campismo para Caravanas e não só, uma praia fluvial com uma boa extensão de areal e ainda um grande parque urbano.
Com isto, ambas as aldeias poderiam beneficiar directamente do impacto deste Projeto. A sua proximidade com a Albufeira do Pisão, iria desenvolver uma relação directa na criação de valor acrescentado para a restauração ou até mesmo para a fixação de novos negócios.
Aqui bem próximo de Beja, temos uma Praia Fluvial que é uma referência de qualidade e que serve perfeitamente de exemplo. A Praia Fluvial da Tapada Grande, na Mina de São Domingos.
A Mina de São Domingos, vive hoje uma realidade completamente distinta, desde que passou a contar com a Praia Fluvial. Há toda uma dinâmica local que antes não tinha lugar.
No entanto, foi-me transmitido por uma fonte da EDIA, que a Albufeira do Pisão (Beringel) constitui alguns riscos, nomeadamente o da qualidade da água, porque alguns esgotos de Beringel ainda fazem descargas diretas. Além disso, esta Albufeira terá uma baixa profundidade, o que acarreta riscos para as espécies piscícolas devido à temperatura da água, que a ETAR de Beringel descarrega para um efluente da Albufeira, que a entrada da água da Barragem fica junto à cabeceira da Albufeira e mais alguns outros detalhes e situações.
Apesar de todos estes riscos e problemas me foram apontados pela EDIA em relação à Albufeira do Pisão (Beringel), mantenho a mesma opinião, pois todos eles podem e devem ser resolvidos. Alguns deles até constituem risco ambiental e já deveriam ter sido resolvidos ontem.
Interrogo-me se no momento em que a Albufeira do Pisão foi pensada ou considerada, ninguém colocou as possibilidades e o todo o potencial que a mesma iria representar, de forma a que a sua construção não acarretasse no futuro tantos riscos no que diz respeito ao seu aproveitamento para fins múltiplos para além do regadio?
Não acredito nem defendo uma visão simplista onde se tomam opções políticas e se avança para Projetos, só porque existem financiamentos que os justificam. Reconheço que tudo tem associado um “custo de oportunidade”. Que não avançar significa perder aquela possibilidade, mas os Fundos foram criados para serem aplicados da melhor forma possível. De que nos serve algo pequeno e limitado quando podemos planear, com os olhos no futuro e criar uma estratégia para ter um Parque Fluvial que seja estruturante e represente uma mais valia para as aldeias e para o Concelho?
Também me foi transmitido que a criação deste Parque Fluvial não implica que Beringel não venha a beneficiar do aproveitamento da Albufeira do Pisão para outros usos que não uma Praia Fluvial (no entanto, ainda sem datas concretas). Mas de que nos serve a dispersão de equipamentos e a multiplicação de custos de manutenção com espaços que poderiam ser pensados e planeados para dar outra dimensão às aldeias limítrofes da Albufeira do Pisão?
Devemos continuar investidos em criar pequenos Projetos isolados e dispersos ou planear de forma consciente e integrada para poder tirar o máximo benefício de todo e qualquer Projeto, tornando esse mesmo Projecto num Projecto verdadeiramente Estruturante para a Cidade e para o Concelho?
Embora esta seja uma análise rápida, acredito que o Parque Fluvial dos Cinco Reis, independentemente do seu sucesso, será apenas mais um Projeto e não nunca será um Projeto Estruturante integrado numa visão de desenvolvimento económico e/ou turístico.
Autor(a): Luís Palminha
Humanista, Criativo, apaixonado pela 7ª Arte, Fotografia e Arquitectura, é também entusiasta das IT’s. Durante a Licenciatura em Arquitectura de Gestão Urbanística, encontrou nas Cidades e no Território, um novo ímpeto guiado pelo constante desafio de mudanças de paradigmas.
(De momento encontra-se a concluir a Tese de Mestrado em Urbanismo)