Vamos falar desta fotografia. Da energia e alegria que desta emana. Que apesar de todas as agruras da vida, um povo esquecido, se uniu para fazer uma Manifestação onde se sorriu ao invés de se assobiar, onde se cantou ao invés de insultar Governos, onde escolhemos partilhar emoções com quem nos tem ofendido e esquecido.
Vamos falar disso. Isso sim importa ressalvar.
Fomos enormes em Lisboa. Digo orgulhosamente fomos, porque também eu estive lá. Não estou magoado com quem preferiu ficar no conforto do sofá em casa e apenas colocou na foto de perfil o seu apoio ao Movimento Beja Merece Mais. Acredito que todas essas pessoas teriam sentido um grande aperto no coração se tivessem partilhado connosco todos aqueles momentos vividos ontem. Que ter-se-iam emocionado, como tantos o fizeram ontem. Conheço imensas pessoas que não foram porque não se identificam com manifestações, mas estou certo que tivessem sido parte da Manifestação de alegria e afeto que teve lugar ontem em frente à Assembleia da República, que mudariam a sua opinião em relação a Manifestações. Porque nem todas as Manifestações são iguais.
As nossas causas, são causas dignas de um povo genuíno! Temos uma Autoestrada incompleta que está terminada e há meses que aguarda ser inaugurada. Uma rede de acessibilidades no nosso distrito de Beja que insiste em nos afastar e dificultar o acesso a Educação, Cultura ou Saúde e nos vai ceifando vidas de jovens que ousam resistir à tentação de partir. Um comboio miserável que se atrasa com regularidade ou que nos deixa esquecidos ao frio, à chuva e ao calor numa estação desprovida de condições mínimas. Um Hospital na capital de distrito, que um dia foi referência nacional em diversas especialidades, mas que hoje é carente em especialistas ou equipamento. Hospitais no distrito que carecem de valências ou camas para poder oferecer dignidade a quem procura por um pouco mais de saúde. Uma vasta população idosa, que vive com o coração nas mãos, porque após as 18h o Posto mais próximo da GNR é o de Beja, pois os seus pequenos postos só voltam a abrir às 8h da manhã do dia seguinte. Um aeroporto que devia e podia ser um motor económico de toda a região, mas que continua a sobreviver sem as necessárias acessibilidades, porque tem sido essa a opção política ao longo dos diferentes governos. Um povo que continua a envelhecer e a ver partir os filhos, sem esperança alguma de os ver regressar para dinamizarem a região ou para tirarem partido de novos investimentos empresariais, sendo raras exceções aqueles que tudo fazem para não sair da sua terra e que todo o meu respeito merecem.
E mesmo assim, a nossa resposta ontem foi uma Manifestação de emoções genuínas!
Sobre ontem, apenas podemos sentir orgulho. Orgulho por todos os que lá estiveram e representaram todos os que não puderam lá estar ou escolheram não ir. Sentir um orgulho imenso por quem escolheu o Alentejo ou por ter nascido no Alentejo.
Confesso que não sei quais são as fronteiras do Movimento Beja Merece Mais. Uns dizem que é do Baixo Alentejo mas eu prefiro dizer que é o Alentejo. O Alentejo no seu todo, porque as nossas causas são semelhantes a tantos outros lugares que se estendem por toda a região e também por todo o interior de Portugal. Talvez faça sentido repensar a forma do Movimento. Talvez faça sentido criar um Movimento que englobe todos os Concelhos que se pretendam afirmar da mesma forma que Beja e que tenham razões genuínas para afirmar que Merecem Mais.
Ontem foi dado mais um passo nessa grande epopeia que nos aguarda até atingir os objetivos da nossa causa. Um passo que simbolizou uma grande lição de dever cívico!
Que venham os próximos e nos encham o coração de orgulho!
Post Scriptum: Agora ide, ide criar os Movimentos no vosso Concelho. O Aljustrel Merece +, o Serpa Merece +, o Mértola Merece +, o Odemira Merece +, o Ourique Merece +, o Barrancos Merece+, o Castro Verde Merece +, o Almodôvar Merece +, o Cuba Merece +, o Vidigueira Merece +, o Alvito Merece +, o Ferreira do Alentejo Merece +. Todos juntos, faremos ouvir que O ALENTEJO MERECE MAIS!
(foto: Tiago Petinga – LUSA)
Autor(a): Luís Palminha
Humanista, Criativo, apaixonado pela 7ª Arte, Fotografia e Arquitectura, é também entusiasta das IT’s. Durante a Licenciatura em Arquitectura de Gestão Urbanística, encontrou nas Cidades e no Território, um novo ímpeto guiado pelo constante desafio de mudanças de paradigmas.
(De momento encontra-se a concluir a Tese de Mestrado em Urbanismo)