Durante as últimas semanas, tanto através das redes sociais como através da comunicação social em Beja, assistiu-se a uma pressão crescente por parte da Associação Culturmais, que sob diversas formas sugeriu que o maior evento que realiza anualmente – o Santa Maria Sumer Fest (SMSF), estaria comprometido caso não chegassem a acordo com a Autarquia, visto que este apoio é visto como essencial à organização do referido festival.
Entretanto, ontem, através da Comunicação Social como também através das redes Sociais, foi lançada a informação que o Santa Maria Summer Fest não se realizará no presente ano e que a Associação já se encontra a preparar a edição de 2019, abrindo a possibilidade deste festival poder ser realizado noutra localidade, consoante os apoios.
Não irei entrar no campo do argumento da Associação ou na forma de negociação, mas antes focar-me nos valores tornados públicos através da Comunicação Social.
Refere a notícia divulgada na Rádio Voz da Planície que a
“Câmara de Beja propôs inicialmente um valor, de 17.500 euros e que mais tarde, no final do mês passado, decidiu reduzir a proposta que tinha feito inicialmente, para 10.000 euros, situação que a Culturmais não aceitou.”
Mais, no comunicado pago publicado no facebook oficial do evento http://fb.com/santamariasummerfest pode ler-se
“Depois de um longo período de negociações com a Câmara Municipal de Beja, onde nos deparámos com problemas de timing e reduções de orçamento às quais não nos sujeitámos, é com pesar que anunciamos que não haverá festival em 2018.”
Antes de continuar a escrever este artigo, considero fundamental deixar claro que tenho grande estima por todos aqueles que dão o melhor de si nas mais diversas causas e assumem a liderança de projetos de associativismo, pois no passado também eu fui dirigente associativo em vários projetos e acredito conhecer as dificuldades inerentes a toda a gestão, bem como a noção de todo o tempo que se investe e tudo o que se abdica, para conseguir colocar em prática ações, objetivos ou eventos, sem receber qualquer contrapartida.
Mais, não sou contra o Festival. Antes pelo contrário, sou totalmente favorável à diversidade cultural, mas não a qualquer preço!
Sempre defenderei mais e melhores eventos, para que se possa levar a cultura ao maior número de pessoas possível.
Voltando ao SMSF, há já algum tempo que fui desafiado pelo meu amigo Vitor Paixão, para me pronunciar sobre o Santa Maria Summer Fest, mas entendi não o fazer antes, por considerar ser uma opinião que deveria partilhar após ser conhecida uma decisão do novo Executivo da Câmara Municipal.
Tendo em conta amizade que tenho para com o Vitor Paixão, pedi facultasse dados relativos à evolução do Santa Maria Summer Fest – como orçamentos, número de bilhetes vendidos e outras informações de relevo, desde o seu humilde início até à sua última edição.
Após compilação dos dados que recebi, obtive o seguinte gráfico:
NOTA:
– 2010, 2011, 2012 e 2013 o Festival era gratuito, responsabilidade da Junta de Freguesia, tendo passado a ser cobrada bilheteira na edição de 2014 e seguintes (*), já sob a responsabilidade da Associação Culturmais.
– Relativamente aos orçamentos de 2014, 2015, 2016 e 2017, deve ser considerado que apenas 22% do valor corresponde ao apoio direto do Município, 5% às Uniões de Freguesias da Cidade e outras entidades Públicas e 3% a Patrocínios de Privados e/ou Comércio local. O restante, 70% é responsabilidade da Associação Culturmais.
Frequentemente é afirmado que o SMSF é um Festival que tem vindo a crescer, mas analisando o gráfico percebemos que o que tem vindo a crescer é a sua dimensão orçamental, juntamente com a qualidade das bandas e diversidade, mas este crescimento (ou investimento) não acompanhado pelo número espectadores. Aliás, a edição de 2013 foi a que mais público teve até hoje e apenas teve 5 mil euros de orçamento.
Os eventos de referência nacionais, como o VOA (Corroios) ou o VAGOS METAL FEST (Vagos) são eventos que representam mais de 10 mil pessoas, mas são planeados segundo uma lógica empresarial, por agências e promotores de espetáculos.
Certamente que se o SMSF significasse para Beja 10 mil pessoas durante 3 dias, que o Executivo da Câmara Municipal teria outra postura para com o evento.
Acredito no sucesso do Festival Santa Maria Summer Fest, no entanto, o modelo atual parece-me esgotado. Deveria ser repensado e até mesmo analisar a possibilidade de tornar a própria Associação Culturmais, numa empresa especializada e promotora de Eventos e Espetáculos.
Quando penso neste evento, vejo-o a decorrer na Barragem do Roxo, com o apoio logístico das Câmaras de Beja e Aljustrel. Não é uma Ilha do Ermal, mas acredito que a Barragem do Roxo oferece o potencial que este Festival necessita para crescer e equiparar-se aos restantes eventos de referência.
Quem sabe até, um dia, ser vir ser a grande referência nacional dentro do seu género?
ERRATA: Por lapso, tanto o gráfico como o artigo referiam 4 dias de duração do SMSF quando a duração foi de 3 dias.
Autor(a): Luís Palminha
Humanista, Criativo, apaixonado pela 7ª Arte, Fotografia e Arquitectura, é também entusiasta das IT’s. Durante a Licenciatura em Arquitectura de Gestão Urbanística, encontrou nas Cidades e no Território, um novo ímpeto guiado pelo constante desafio de mudanças de paradigmas.
(De momento encontra-se a concluir a Tese de Mestrado em Urbanismo)
Injusto: o crescimento de público deverá ser avaliado a partir de 2014, altura em que se começou a cobrar entrada, como tal comparar 2013 com o que vem a seguir é tremendamente injusto. Por outro lado não haveria espaço em Beja para mais uma empresa de eventos e o Municipio aniquilar-me-ia essa possibilidade. Análise por demasiado injusta e muito pouco desenvolvida.
Não acredito que seja injusta. São pontos de vista distintos.
Se a Câmara vos garantiu o apoio de 10 mil euros, e se esse montante corresponde a 22%, significa que vos foi dada a possibilidade de realizar o festival com um orçamento total a rondar os 45 mil euros (isto é, com base nas percentagens de referência).
Uma associação tem toda a legitimidade para avançar ou suspender atividades, mas acho que não deve vir a público afirmar que não admite imposição de restrições orcamentais, porque qualquer associação vive na dependencia dos seus orçamentos. Se acreditam no Festival da mesma forma que eu acredito, então quebrem as amarras e tornem-se uma empresa. A partir desse momento, deixa de existir orçamento e dependência de apoios.
Vitor, eu acredito que nem tudo o que é evento cultural tenha obrigação de gerar lucros. Mas o caso aqui é diferente. Estamos a falar de um festival que cresceu para além das próprias capacidades da Associação (só isso explica o prejuízo assumido a título pessoal na última edição).
O Metal é um nincho de mercado. Nunca será um evento para as massas, mas o mesmo não significa que não consiga fidelizar um público de cerca de 10 mil pessoas, anualmente ou bi anualmente. Embora considere esse número bastante realista, acho que o modelo atual não tem sustentabilidade para atingir esses números.
Um abraço e continuação de bom trabalho (porque a atividade da Culturmais vai muito para além do SMSF)!
O prejuizo está explicado, basta leres e sabes onde. Quando referes Vagos pergunto: sabes onde fica Vagos, sabes o apoio que o Municipio lhes dá? Que a Região de Turismo lhes dá? 10.000 pessoas? Sou cliente de Vagos e o máximo que tiveram foi cerca de 7.000 pessoas nos 3 dias como tal se queres fazer uma análise justa o SMSF teve cerca de 3.000 pessoas nesses mesmos 3 dias. Sabes há quanto tempo existe o festival em Vagos? O que aconteceu há 2 anos quando a própria Câmara resgatou o festival? Como podes tu falar em Vagos? Conheces o SWR Barroselas? O Moita Metal Fest? O Amplifest? Dei-te eu dados, de boa-fé, para isto? Que nem imparcial consegues ser?
Tendo em consideração os valores que o Município disponibiliza para a realização do festival neste ano, e tendo em conta o investimento de 2013 (5000€) e o número de espectadores (1100, o maior de sempre) parece-me lógico qual o modelo a ser seguido nesta altura do campeonato; não invalida que no futuro o festival não possa «crescer» e tornar-se numa coisa diferente, mas sinceramente penso que mais vale «haver» do que «não haver» festival, por muito dolorosa que seja a ideia de dar um passo atrás, e não me parece de todo inaceitável a realização de um festival nos moldes que aconteceu no ano de 2013, antes pelo contrário.
Vagos Metal fest, organizado por uma EMPRESA!!!
Comparticipação do Municipio de Vagos:
2016 – €43.500
2017 – €50.900
2018 – €70.088,24.
Quando não sabem não comparem.
Um festival como o SMSF faz falta a Beja e ao Alentejo.
Acompanhei esta situação pela comunicação social, redes sociais, blogs e lamentavelmente,
correta ou incorretamente, o que transparece é que a organização do SMSF decidiu cancelar o
festival pois não concordou com o valor do subsidio atribuído pela autarquia de Beja.
Não posso concordar, de forma alguma, com esta dependência de subsídios que reina em
Portugal. Um País que passa com alguma frequência por crises e possui uma dívida pública de
aproximadamente 240 mil milhões de euros tem de aprender a viver dentro das suas
possibilidades.
Também as organizações de atividades culturais em Portugal têm de aprender a crescer dentro
das suas possibilidades.
Um festival como o SMSF faz falta a Beja e ao Alentejo, mas nunca a qualquer custo.